Plus500

15.11.06

O caso Varig e a VAGV4


Realmente poderíamos dizer que o destaque da semana na Bovespa foram as ações da velha Varig. Muitos se perguntam qual teria sido a causa para tamanha valorização nos seus papéis nos últimos pregões. Bem, querer analisar a sua performance através dos gráficos, e justificar o comportamento das cotações em função disso, é o mesmo que comprar um ingresso para assistir "O Lago dos Cisnes" e acabar na platéia (ou palco) do "Cirque du Soleil". Não tem mesmo nada a ver!
A Varig é (era?) uma empresa com tradição de quase 80 anos, que cresceu envolta em uma polêmica quanto à extinção da PanAir, incorporando a Real, e mais tarde a Cruzeiro do Sul. Beneficiou-se de um longo monopólio nas concessões de linhas internacionais, vivenciando uma expansão pelo mundo afora sem concorrentes internos, e ainda protegida por leis de reciprocidade que permitiam a apenas uma outra companhia de cada país, que ela tivesse como destino, voar para o Brasil.
Assim, seus problemas começaram com o congelamento de tarifas na ocasião dos primeiros planos econômicos. Grande parte de sua receita se dava em moeda "forte", copensando os leasings das aeronaves, também pagos na mesma "moeda" e o preço dos combustíveis, que sofria pressão pelas seguidas crises externas. Como o Brasil tem dimensões continentais, o transporte aéreo tinha que acompanhar esta demanda por passageiros, e a Vasp e TransBrasil complementavam o serviço na malha doméstica.
Depois, com a eleição do Collor e o incentivo dado a Vasp, recém privatizada e de posse do seu amigo Canhedo, acabaram com o monopólio, estendendo o direito de voar "para fora" também à TransBrasil. Com isso, e em contra partida, além da American Airlines, outras big-carriers como United e Continental passaram a atender as novas frequências em contra partida aos voos que saíam do Brasil. Bom, nem precisamos lembrar que as duas nacionais já quebraram, mas as gringas continuaram voando para cá, com um custo bastante inferior, e sujeitas a menores taxas de financiamentos para renovação de suas frotas.
Neste ponto, a coisa que já não ia bem, piorou: a nossa Varig (na pessoa de seus repreentantes) resolveu trocar todas as suas aeronaves próprias por outras mais modernas, porém alugadas, pagando um preço que só mesmo a aversão ao risco pelos emergentes e o descomprometimento dos controladores da Fundação Rubem Berta aceitaram acordar.

Some a estas seguidas gestões temerárias, os prejuízos decorrentes da defasagem nos reajustes dos preços das passagens, mencionado anteriormente, para termos um quadro de insolvência. A Transbrasil ganhou e recebeu na justiça a indenização pelas suas perdas (mas infelizmente o dinheiro foi para outros empreeendimentos de seu dono - como uma estação de esqui no Colorado), e isto fez com que o governo protelasse o pagamento de causa idêntica, já vencida pela Varig em 2 instâncias, para não entregar o "ouro" aos responsáveis pela sua (má) administração. E a situação foi se deteriorando até o estágio onde ela mal conseguia pagar suas despesas para voar... e houve a intervenção. Ela já devia 7 Bilhões entre causas trabalhistas, compromissos com estatatais e seus fornecedores. Para ocupar este espaço, TAM e GOL foram crescendo, aumentando suas frotas e expandindo suas linhas.

Finalmente conseguiram colocá-la em leilão (apenas a parte operacional) e o passivo ficou com a pioneira... Esta manobra foi uma tentativa de preservar 11 mil postos de emprego altamente qualificados. Mas nem isto foi respeitado. O Certificado de Homologação de Empresa de Transporte Aéreo (o tal CHETA) ainda não foi concedido, e a compradora VarigLog - outro coelho tirado da cartola com a venda do serviço de carga para um grupo estrangeiro (vale lembrar que a lei limita em 20% a participação externa nas cias de transporte aéreo brasileiras, e até a possibilidade de mudarem isto na constituição foi aventada) - que vem trabalhando com aeronaves e tripulações emprestadas, ainda não existe como pessoa jurídica. Mas, e a "velha" Varig..? O que restou para os acionistas da VAGV4? Além das dívidas? A redistribuição das rotas ainda nem começou...

Portanto, é realmente de impressionar o comportamento que suas ações vêm apresentando. Coloquei o gráfico de forma meramente ilustrativa, porque é impossível fazermos qualquer análise técnica séria para uma empresa que não tem nenhum fundamento! Mas então por que as suas ações estão subindo? Não vejo outro motivo que não seja pura especulação! E alguém vai pagar esta conta... pelo menos com aqueles que, às vésperas do leilão, adquiriram seus papéis quando estes foram levados perto de 10 reais!!! Esqueceram disso..?

Mas neste aspecto o gráfico acima é fiel... observem que, tirando raros períodos atípicos, a cotação sempre oscilou na estreita faixa entre as linhas azuis (se for preciso, clique no gráfico para ampliar). De 1,20 a 1,70! O resto foi especulação total! E agora fala-se na possibilidade do governo ceder e finalmente pagar o que deve a companhia (3 BI). Mas isto não cobre nem metade das dívidas e, além do mais, já está tomado como garantia pelo Aerus (o fundo de pensão), também para o pagamento das recisões trabalhistas, e com alguns afortunados credores que vão brigar pelas migalhas que sobrarem... ou seja, os acionistas minoritários não devem ficar com NADA!

Muito cuidado com o canto dos cisnes... para não acabar como o palhaço do Cirque du Soleil!!!

Esta é apenas uma visão (a minha) como profundo conhecedor do problema, parte diretamente interessada em uma solução para o caso, mas que, nem por isso, pertence a nenhum dono da verdade. Muitas versões podem ser contadas e diversas explicações parecerem convincentes... a história ainda não terminou!
Boa sorte e juízo! ^v^

3 comentários:

Dono da Coca disse...

Essa varig é pura emoção!!!

Obrigado pela postagem de nosso link em seu site, agradecemos muito.

Abraços e bons trades.

João Victor B. Gonçalves
http://notasdomercado.blogspot.com

Seagull disse...

o fato é que as bolsas americanas operaram em alta hoje, principalmente, devido ao anúncio da oferta de U$8 bi feita pela US Air para comprar a Delta!

O mercado de transporte aéreo é mesmo um setor bastante complicado.

Anônimo disse...

Quando alguém fala que a "Velha" Varig tem a receber do Governo três bi e que isto não paga nem a metade da dívida, no meu entendimento não tem credibilidade nenhuma. Os três bi estão em valores de 1992, atualizados para hoje apenas com juros de 0,5% a.m., conforme sentença do STJ, o valor supera os sete bi. Quando se fala em valores a receber todo mundo sub-valoriza os créditos, mas quanto falam em dívidas elas vão as alturas, meses atrás estava em seis bi, mais recentemente em sete bi e já tem gente que fala em oito bi. As dívidas crescem de forma vertiginosa, os créditos ficam estagnados no nível de 1992, aque interessa isso? acho que somente a quem quer comprar essas ações da Velha Varig...