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26.6.07

Save Earth!


Sustentabilidade: de quantos planetas Terra precisaremos no futuro?

Repensar os processos industriais, mudar radicalmente hábitos de consumo e incentivar a ampliação de ações de reciclagem entre as empresas. Essas são condições fundamentais para sustentar o crescimento das gerações futuras, segundo o indiano Surya Chandak, diretor do Environmental Technology Centre, do Programa Ambiental das Nações Unidas no Japão. Ele próprio busca aplicar o discurso na prática. No dia-a-dia, Chandak evita andar de carro e controla o desperdício até nas folhas que usa em seu escritório. Chandak defende revisões na produção de plásticos, alumínios e no uso e industrialização de automóveis. “Caso essas idéias não sejam disseminadas e os processos, revistos, nem dois planetas Terra serão suficientes para nos fornecer os recursos necessários para as próximas décadas”.

Com 12 milhões de habitantes, Tóquio é um dos símbolos do atual modelo de produção e de consumo. Mas para sustentar o padrão de vida da metrópole é preciso um território equivalente a 3,5 vezes o tamanho do Japão – que tem uma população de 126 milhões de pessoas. Recentemente, ao participar do 1º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos, em Porto Alegre, Chandak foi categórico: “É todo um estilo de vida que precisa mudar”. Para o francês Yves Mathieu, a sustentabilidade do planeta depende da adoção de padrões de consumo mais racionais e, por conseqüência, de alterações no modelo de produção. “Precisamos de uma transição para mudar a nossa cultura de consumo”, alerta Mathieu, especialista em sustentabilidade e um dos multiplicadores do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. Depois de lançar seu filme, Uma Verdade Inconveniente, Gore treinou um grupo de pessoas para divulgar suas idéias a respeito das ações políticas e soluções econômicas que deveriam ser adotadas para conter o aquecimento global.

Nas mãos de todos – Como fazer essa transição, e o preço a pagar, é uma questão-chave que está longe de ser resolvida. Ao menos na esfera das grandes decisões políticas – veja-se a resistência dos Estados Unidos, responsável pela maior fatia das emissões atmosféricas mundiais, em mudar sua matriz energética. Para Naná Medina, diretora da Fundação Universitária Ibero-Americana (Funiber Brasil), o verdadeiro poder de mudança está nas mãos do consumidor – embora ele ainda não esteja consciente disso. “As empresas querem vender. Se o consumidor mudar, elas vão se adaptar”, defende. Do lado das empresas, os sinais de uma nova postura já começam a aparecer. Afinal, cedo ou tarde – não tarde demais, esperamos todos, as mudanças vão acontecer. Assim, antecipar-se ao que vem pela frente é o melhor a fazer.

O caso da Natura é emblemático dessa nova visão. Preocupada com o impacto ambiental de sua atividade, a companhia passou a oferecer produtos em refil. Em vez de jogar a embalagem fora, agora as clientes podem guardá-la para armazenar o próximo conteúdo – como já acontece também com os vidros de café e com alguns produtos de limpeza. Mas não é só isso. Como a Natura usa matérias-primas da Amazônia, ela treinou as comunidades locais para que extraiam as substâncias de forma sustentável. “A empresa não foi lá apenas comprar a matéria-prima. Ela se envolveu com as comunidades em um projeto de sustentabilidade”, reforça Eduardo Tomiya, diretor-geral da consultoria de marcas BrandAnalytics.

Para o setor industrial, adotar uma nova postura sustentável significa implantar mudanças no sistema de produção. Nesse caso, há pelo menos três etapas obrigatórias. A mais simples e mais conhecida é a da reciclagem: reutilizar o material para o mesmo fim original. É o que faz a indústria do alumínio no Brasil, que recolhe e recicla 96% das latinhas de bebidas vendidas. A reutilização do material em outro processo, como, por exemplo, incinerar pneus ou plásticos para gerar energia, é uma segunda etapa. A terceira e mais importante, envolve repensar os processos produtivos. Ou seja, ao invés de buscar uma destinação para os rejeitos no final da linha, a empresa passa a avaliar todo o processo – do design do produto à embalagem – de forma a não gerar, ou gerar o mínimo de resíduos. “Essa é a solução menos usada hoje, mas é a que tende a ganhar mais espaço no futuro”, acredita o professor Celso Lemme, do Instituto Coppead de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro..

Em alguns segmentos, preparar-se para o futuro pode significar até mesmo repensar o negócio, criando novas alternativas para o longo prazo. É o caso dos setores de energia e de combustíveis. A Petrobras já mudou o foco de atuação: antes se definia como empresa de “petróleo e derivados”, agora é uma companhia de energia. Por seu lado, as concessionárias de energia elétrica fazem pesquisas com células a hidrogênio para abastecer, no futuro, os automóveis com motores elétricos.

Estímulo à inovação – O professor Lemme destaca que, desde a década de 90, já existem estudos que mostram que não há conflito entre uma empresa ser ambientalmente correta e economicamente produtiva. Afinal, a pesquisa e o avanço dos processos tecnológicos podem levar a um maior grau de sustentabilidade. “Portanto, a pressão social e as questões ambientais são um estímulo para a inovação”, assegura o pesquisador. No sentido contrário da inovação – na lanterna da corrida pela sustentabilidade – estão aquelas empresas que só tomam alguma atitude depois de perder mercado. “Você não vai esperar o seu time levar dois gols para reagir, vai?”, questiona Lemme.

Para o professor Eduardo Filippi, do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, “as mudanças estão lentas diante da catástrofe que se avizinha”. É verdade. Mas é também verdade que muitas empresas, de diferentes setores, começam a considerar em seu planejamento estratégico a sustentabilidade. E não só ambiental, já que em segmentos como armas, fumo e bebidas alcoólicas as pressões sociais e as barreiras legais podem trazer prejuízos maiores aos negócios do que eventuais problemas envolvendo o meio ambiente. (Amanhã)

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