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20.8.07

Negócio da China?

Motivos pelos quais este não será um século chinês

De Lester Thurow*

A China alega que sua economia está crescendo de 10% a 11% ao ano, e analistas oficiais chineses dizem que seu país alcançará os Estados Unidos antes da chegada do século 22. Não acredite.

Primeiro, vamos lidar com a implausibilidade das estatísticas oficiais chinesas. Matematicamente, se a economia geral estiver crescendo 10% ao ano, e 70% da economia baseada nas áreas rurais não estiver crescendo (como declarado pelo governo chinês), o crescimento da economia nas cidades chinesas teria que ser de 33% ao ano. A economia urbana está crescendo rapidamente, mas não em um ritmo de 33%.

Além disso, as estatísticas chinesas entram em conflito com as de Hong Kong, o território semi-autônomo que serve como capital financeira de grande parte do sul da China. Em 2001, Hong Kong passou por uma recessão, o que significa que informou uma queda de seu PIB (produto interno bruto). Guangdong, a província chinesa adjacente, tem uma população de cerca de 200 milhões. Em 2001, ela informou que seu PIB cresceu 10%. Quais são as chances de ambos os números estarem corretos? Muito poucas.

O indicador 'eletricidade'
As taxas de crescimento econômico podem ser deduzidas a partir do consumo de eletricidade. Em todo país do mundo, o uso da eletricidade geralmente cresce mais rápido que o PIB. A eletricidade é necessária para quase todas as atividades produtivas e, devido a ineficiências, o consumo de eletricidade geralmente ultrapassa o crescimento econômico. Os crescentes custos de energia resultaram em um uso mais eficiente da eletricidade, mas especialmente nos países em desenvolvimento, o crescimento econômico ainda costuma ficar atrás do crescimento do consumo de eletricidade.

Mas se acreditarmos nos números oficiais da China, há províncias onde o PIB cresceu mais rapidamente que o uso de energia. Isto é improvável, dado que as estatísticas do governo central também dizem que o uso de energia por unidade do PIB está crescendo - não caindo, como alegam as estatísticas provinciais do PIB.

Entre as 12 economias que cresceram mais rapidamente no mundo nos últimos 10 anos, o PIB cresceu apenas 45% do crescimento do consumo de eletricidade. No início dos anos 70, o Japão fechou sua indústria de alumínio de alto consumo de eletricidade. Durante este período, o PIB cresceu o equivalente a 60% do crescimento do consumo da eletricidade, o nível mais alto registrado entre os países industrializados.

Usando tais números como guia, considerando o atual uso de eletricidade pela China, que é relativamente fácil de medir, e um pouco de matemática, nós chegamos a esta estimativa: o PIB na China está crescendo entre 4,5% (usando a média para um país que está crescendo rapidamente) a 6% ao ano (usando a taxa mais alta do Japão), não os 10% alegados pelas estatísticas oficiais.

A estatística oficial da taxa de crescimento geral da China é considerada como uma taxa de crescimento aproximada da economia em suas cidades.

Uma questão histórica... e econômica
A China também alega oficialmente que alcançará os Estados Unidos e se tornará a maior economia do mundo bem antes da chegada do século 22.

Há um motivo igualmente simples para a improbabilidade destas previsões se concretizarem. Simplesmente leva mais de 100 anos para um país grande, menos economicamente desenvolvido, alcançar o líder mundial em renda per capita.

Basta apenas olhar para a história dos Estados Unidos, que tinha uma taxa de crescimento muito maior que a do Reino Unido no século 19, mas só o alcançou na Primeira Guerra Mundial. Ou considere o Japão e os Estados Unidos. Cerca de 150 anos depois que o Japão começou a se modernizar durante a reforma Meiji, o PIB per capita do país ainda equivale a apenas 80% do PIB americano em termos de paridade de poder de compra - apesar de, em termos nominais, ter alcançado.

Os Estados Unidos não estão estagnados. Na verdade, sua renda per capita cresceu mais rapidamente que a de quase todos os outros grandes países de 1990 a 2007. A renda per capita da Europa caiu de 88% da renda americana em 1990 para 66% em 2007, segundo estatísticas do Fundo Monetário Internacional.

Então vamos dizer que a taxa de crescimento corrigida pela inflação da China seja de 4% ao ano. Isto é uma previsão otimista, porque a China certamente terá alguns anos ruins no próximo século. Todo país tem - lembre da Grande Depressão nos Estados Unidos. Uma taxa de 4% é maior do que qualquer grande país cresceu por 100 anos. Mas vamos presumir que a China consiga. Também vamos presumir que os Estados Unidos cresçam a uma taxa de 3% ao ano, que foi sua média nos últimos 15 anos.

Agora vamos projetar as duas taxas de crescimento à frente: o PIB per capita corrigido pela inflação da China seria de menos de US$ 40 mil em 2100, contra quase US$ 650 mil nos Estados Unidos. Isto porque a China começa com US$ 1.000 per capita e os Estados Unidos em US$ 43 mil. Se, em 2100, a China tiver quatro vezes mais pessoas que os Estados Unidos, como tem agora, a China ainda assim não teria um PIB igual ao dos Estados Unidos.

Mas é improvável que tenha quatro vezes mais habitantes. É sempre um erro projetar taxas de crescimento populacional por um século, mas vamos fazê-lo assim mesmo - com a política de um só filho e uma relação entre gêneros que favorece os meninos (muitos homens não encontram esposas) - a China deve experimentar um declínio da população no século 21. Mas vamos presumir por um momento que a população da China permaneça constante, em 1,3 bilhão. Se a imigração para os Estados Unidos continuar na taxa atual, a população dos Estados Unidos aumentará. Se a população crescer 1% ao ano, como vem ocorrendo recentemente, ela terá mais que dobrado em 2100, reduzindo a enorme diferença populacional entre os dois países. Estas projeções provavelmente se realizarão? Quem é que sabe? O que está claro é que a China dificilmente superará os Estados Unidos em PIB seja em termos absolutos ou relativos tão cedo.

Poderá haver um século chinês, mas será o século 22 - não o 21.

*Lester Thurow é professor de administração e economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ele também faz parte do conselho diretor da Taiwan Semiconductor, que realiza negócios na China.

Tradução: George El Khouri Andolfato

2 comentários:

Seagull disse...

Obrigado pela publicação do artigo, Zarautz!

A situação é mesmo muito delicada. Dizem que a China exerce forte influência nas decisões do FED em sua política econômica.

E que, pela posse de grandes reservas em dolares e uma quantidade enorme de treasuries americanos ela poderia desestabilizar o câmbio (que já anda meio baqueado) caso resolvesse vender seus títulos no mercado.

Tudo em contrapartida à pressão que os EUA fazem para ela desvalorizar o seu YUAN. Isto beneficia os exportadores chineses e, diretamente, empresas multinacionais que tem grande parte de suas produções instaladas em território chinês.

O problema continua sendo a questão do crédito( e em decorrência, o consumo). Se não mexerem com os juros na medida certa, as consequências podem ser irreversíveis em MP.

Temos uma encruzilhada que nem macumbeiro quer passar perto...

Pimon disse...

Renda per capita não é símbolo de nada.

Importa é a PPC, paridade de poder de compra.

China está na rabeira, cuidado com o retrovisor.