Plus500

23.9.07

O Caráter dos Blogs

Artigo publicado no Blog do Luis Nassif que vale uma reflexão neste domingo:
Por lu dias

Penso que seja de suma importância o debate e a compreensão dos problemas sobre o nosso país e o mundo, assim como os triviais. Para tanto deveríamos partir da visão do eminente professor Álvaro Vieira Pinto, que alerta para o fato de que, para o bom conhecimento “ é preciso que se faça uma distinção entre “consciência ingênua” e “consciência crítica”. Segundo ele, a maioria de nossos erros são resultado do uso equivocado que fazemos da “consciência ingênua”, que permite que julguemos pessoas e fatos, não como na verdade são, mas “como procuram dar a impressão de que sejam”...

Acabamos sempre nos enganando em nossos julgamentos.

E é triste como a História deste país foi sempre julgada sob o ângulo da “consciência ingênua”. Amedronta-me o fato de que nossa “consciência crítica”, seja conhecida, apenas, quando pouco ou nada, pudermos fazer por este país.

Jamais acreditei em qualquer tipo de uniformidade, embora, ilusoriamente, continue a buscá-la na ética e no direito de defesa, quando o insulto à capacidade racional e moral de outrem, fica escancaradamente exposto.

Tampouco me escudo em privilégios, uma vez que esses insinuam a fraqueza de espírito de quem os recebe, por deles depender. Mas acredito sim, na existência de maior harmonia entre os pares, mesmo quando divergem. Mais que isso, acredito que ninguém foge à natureza humana no que diz respeito à reciprocidade.

A nossa própria linha de raciocínio, induz-nos a buscar os nossos iguais, sem que para isso excluamos os diferentes, que por sua vez também buscam os seus iguais. E um blog, nada mais é que uma amostragem da sociedade em que vivemos. Assim vivem os políticos, os economistas, os jornalistas, os escritores, os professores e os homens comuns. Não há nada de mais nesse “karma”, desde que, nele se prime pelo respeito aos diferentes. A escolha de um “blog” não se dá ao acaso, pesa nela a simpatia e a linha de pensamento de seu dono. A identidade é tamanha que chegamos a tomar como nossos os seus próprios desafetos. E ninguém há, em sã consciência, que possa negar que a sua linha de pensamento atrai aqueles que consigo se interam. Foi e será sempre assim. É dessa interação que nascem as amizades, não as meramente corteses, de diálogos esporádicos, mas as genuínas, que para mim, dão ao blog, o caráter de um verdadeiro espelho social. Se a elas não nos atêssemos, melhor seria que freqüentássemos as bibliotecas, onde predomina o contato frio e subjetivo entre homem e livro.

A liberdade em si mesma, não nos traz nenhum mérito, se dela não pudermos fazer uso. Mas jamais nos enganemos com duas palavras, que em nossa língua possui uma grafia bem semelhante: “liberdade” e “liberalidade”. É bom que saibamos que a liberdade, antes de tudo, é uma conquista, mas somente se fará permanente se dela fizermos uso, com sabedoria, respeitando os limites de nossos direitos e deveres.

(...) Penso que o mandamento maior de um blog seja: “Fraternidade e tolerância como os diferentes (desde que eles também sejam tolerantes)”. Não acredito que a “liberdade” seja capaz de vetar qualquer tema que se coloque, mas veta sim o “modo” como esse é colocado. Nada mais justo, quando se busca a civilidade.

Cabe, também, aos comentaristas, não cobrar do dono do blog a exposição ou não de seus comentários. Além de ser uma perda de tempo, incorrem no erro de questionar o direito de livre arbítrio do mesmo. Assim como cabe ao dono do blog dar vez e voz, a quem se sentir ferido, em seus direitos. A réplica ou a tréplica, não se auto-existem. Houve, primeiro, uma idéia exposta que induziu a elas.

O bom de um blog é que ele permite, muitas vezes, o desencanto das duas partes envolvidas: dono de blog e comentaristas. Tal e como é a vida!

Comentário

Vamos a algumas reflexões sobre a construção do conhecimento e do caráter de um Blog.

Aqui há um eco-sistema formidável. Costumo comentar com amigos que o Blog tem um corpo de comentaristas que, como blogueiro coruja, não deve nada a nenhum grande veículo de imprensa. Temos especialistas em planejamento estratégico, história e política no século, lingüística, software, literatura, pintura. É essa soma diversificada de conhecimento que marca um Blog, que o torna um referencial de pensamento crítico consistente. A própria Lu, tempos atrás, proporcionou uma magnífica aula sobre o jornalismo.

Dependendo do clima do Blog, esse conhecimento flui. Dependendo do clima, vai para segundo plano. O clima de grupo, enquanto camaradagem cresce – o que é ótimo. Quando cria desconforto a quem vem de fora, por não poder ou não querer entrar nesse jogo, é ruim.

Não existe “o grupo” em um Blog que se pretenda diversificado. Tenho leitores e comentaristas diários que já estão integrados a esse universo, não participam do “grupo” e foram fundamentais para transformar o Blog em um referencial.

O “grupo” ao qual a Lu se refere transformou o Trivial em um chat agradabilíssimo. Mas são dez ou vinte pessoas. Por isso não cabe tratar os comentaristas como se fosse um bloco homogêneo, como faz a Lu. O papel do blogueiro é mediar para que as pessoas que gostam mais de atuar em grupo não sufoquem as que apreciam a atuação individual.

Nos últimos tempos, esse clima de auto-defesa foi estimulado pela chegada de outro público, a partir da vinda do meu colega Ricardo Noblat. O sentimento de grupo se exacerbou. Algumas queridas freqüentadoras do Blog assumiram posição de “chegamos primeiro, plantamos, e agora outros vêm colher”. Esse clima ameaçou espantar inclusive leitores antigos porque passou a sensação de demarcação de espaço em tudo semelhante ao clima dos velhos chats. As brigas de grupo se sobrepuseram ao confronto de idéias. Daí a necessidade da freada de arrumação. Não é fácil. Imaginem minha dificuldade em moderar uma leitora que, em minha defesa, saiu de faca em punho atrás de neo-leitor. Ora, mas esse não é o ponto central das críticas ao Blog do Noblat?

Depois dessa vinda do Noblat, no seu blog foram definidas algumas regras – como não aceitar mais palavras desclassificadoras, como Lulla (com dois eles) – e aqui houve maior diversidade. Ganhamos os dois.

Não vou julgar comentaristas por sua atuação em outros blogs, nem pretendo que todas as minhas atitudes sejam corretas. Eles não estão entrando como “grupo”, porque os baixarias estão sendo bloqueados.

Muitos novos freqüentadores entram agredindo – como costumam fazer em outros blogs que freqüentam. Agressões mais baixas são eliminadas. Críticas pesadas, porém não injuriosas, são aceitas, às vezes respondidas. O sujeito começa a se dar conta de que não irá chamar a atenção pela agressão, que o jogo é outro, que sua posição é respeitada, mesmo contestada. Gradativamente ele começará a se enquadrar nas regras, sem abrir mão de suas convicções e, muitas vezes, entrando no grupo, separando afinidades pessoais de políticas. Há uma seleção induzida para que os melhores fiquem.

É só ver a maneira como o Mário “Anarquista” cativou pessoas que divergiam profundamente dele. Imagine se, depois que ele se acalmou (porque meu deu um baita trabalho antes, mas fica em segredo entre nós dois) tivesse sido jogado para fora ou rejeitado pelo “grupo”. O Blog teria perdido um contraponto interessante e muitos de vocês um novo amigo.

Luis Nassif

2 comentários:

Monitor disse...

Mazzarino e a alma dos blogs

O cardeal Giulio Mazzarino (1602-1661) foi um legítimo sucessor de Maquiavel. Tutor do príncipe Luiz, futuro Luiz 14, escreveu uma obra – “Breviário dos Políticos” – que é um verdadeiro raio-x sobre o caráter humano e das relações humanas. Identificou o comportamento canalha, o corruptor, o difamador, o lisonjeador com tal argúcia que alguns autores tendem a comparar o livro a “O Príncipe”. Mazzarino desvendou a sordidez da alma humana, com observações que servem como um manual para identificar canalhas, louvaminhas, mentirosos, subservientes, e bandidos que cumprem ordens. Um clássico, enfim.

Vamos a um jogo interessante.

A blogosfera é um universo amplo, diversificado, caótico. Nela é possível encontrar de tudo, do pensador ao hip hop, do blog jornalístico ao esgoto puro, do Pregador radical de um lado, e puxa-saco do outro.

Vou colocar alguns princípios e observações da Mazzarino. Depois, vocês me ajudam a encontrar exemplos adequados a cada princípio exposto. Solicita-se não mencionar autores, visto que muitas frases já vêm com impressões digitais.

• Quem muito se gaba e alardeia o seu valor, não é grande coisa para se temer.

• Não acredite em quem futilmente promete grandes coisas, porque é mentiroso e enganador.

• Para identificar um adulador, faça com que ele julgue uma ação sua incapaz de ser desculpada. Depois, mostra=te a ele perplexo e em dúvida. Se ele te louvar, sem dúvida é adulador.

• Dissimulador é aquele que ora censura, ora recomenda uma mesma atitude, conforme lhe vem ou cai melhor.

• Na maioria das vezes os que falam muito têm pouquíssimo cérebro, porque uma ampla memória exige muito de um grande julgamento.

• Se alguém que esteve um pouco envolvido com vícios se repente se mostra virtuoso, pode suspeitar de suas mudanças.

• São falsários os que com muita facilidade tudo divulgam, e aclamam todas as tuas ações; é fingida a sua amizade.

• Não aceita que seu chefe o escolha para cometer algum delito porque, embora na hora ele te veja com bons olhos, depois passará a te olhar com uma contínua reprovação da tua bandidagem. E irá acreditar que, com muito facilidade, poderás cometer contra ele o mesmo que fizestes contra o outro. E te acharás sempre uma alma vendável, e homem venal de pouco valor.

• É dever, antes, é bastante útil que se dê crédito aos iracundos, poderosos e consangüíneos. Louva, agradece, oferece-te mesmo aos que não merecem.

• Mencione, em uma conversa, defeitos óbvios, nos quais outra pessoa poderia incorrer. Logo, ela radicalizará na denúncia do vício exposto. Quanto mais ela incorreu neste vício, mais obstinadamente o atacará e detestará. Da mesma maneira que os Pregadores que se lançam mais agressivamente contra aqueles vícios com os quais eles se sujam mais.

• Não inicies disputa de assuntos a ti duvidosos, se não tens certeza de saíres vitorioso.

Seagull disse...

Como foram felizes em suas abordagens.

De fato, a liberdade, muitas vezes extrapolada pelo uso de "nicks" que protegem os manifestos anônimos, pode trazer contratempos aos administradores dos blogs, fóruns e outros sites onde a interatividade é estimulada.

Contribuições valiosas de participantes bem intencionados acabam tendo o mesmo espaço de outros comentários com o objetivo apenas de externar rancores ou tentativas de desqualificar opiniões sensatas - mesmo que discordantes.

A grande diferença cultural, e de formação, de cada colaborador é o que valoriza estes espaços, democraticamente abertos ao público, com o objetivo de enriquecer os debates.

Apesar de acreditar que a personalidade do "dono" sempre prevaleça na formação do "caráter" do blog, ações para restringir o acesso de quem não atende às normas de etiqueta no mundo digital, mesmo em defesa do bom ambiente e da troca saudável de informações, são taxadas como censura.

É muito tênue a linha que separa os pensamentos contrários da inconveniência.

Mas a recompensa proporcionada pelos verdadeiros agregadores é muito maior do que os dissabores causados por aqueles que tem como única preocupação impor seus pontos de vista, sem uma argumentação fundamentada e, pior, o devido respeito aos iguais.

Parabéns a vocês e aos que sabem compartilhar seus estudos e pensamentos, fazendo desta ferramenta um recurso a mais para a evolução dos mais variados conceitos.

PS: o post foi divulgado com créditos em http://seagulltrading.com